Sul magazine online brasiliano “Grande Premium”, l’intervista al Dr Michele Zasa “Questão de cabeça”
Num esporte onde o cuidado do corpo é sempre uma obsessão, a saúde mental muitas vezes acaba despercebida. Mas, afinal, o atleta está imune a doenças como depressão, ansiedade e síndrome do pânico?
www.grandepremium.grandepremio.com.br (30/10/2019) “Questão de cabeça” di Juliana Tesser e Nathalia De Vivo
Dentro do esporte a motor, os pilotos de moto provavelmente são os mais sofrem lesões. Mais expostos, já que não contam com a proteção de células de sobrevivência, são poucos os que conseguem passar pela temporada sem sofrer lesões ― de maior ou menor gravidade.
No Mundial de Motovelocidade ― e também no de Superbike ―, os pilotos contam com a atenção constante da Clinica Mobile, uma instalação itinerante que está sempre pronta para atendê-los.
Mais do que acostumado a lidar com os pilotos, o diretor-médico da Clinica Mobile, Michele Zasa, reconhece que os membros do paddock não dão à saúde mental a mesma importância que dão à saúde física. Ainda assim, o médico não considera esse um ponto preocupante.
“Não acho que saúde mental é algo com que os pilotos se preocupem e não acho que seja uma grande emergência no paddock”, diz Zasa em entrevista ao GRANDE PREMIUM. “No entanto, concordo que, assim como em outros esportes, nós precisamos cuidar da saúde mental”, segue.
Zasa alerta, no entanto, que, além da preocupação com aqueles com sofrem perda de desempenho, os pilotos que deixam as competições exigem certo grau de atenção, já que a mudança brusca de estilo de vida pode cobrar um preço.
“Prefiro pensar que, neste, como em outros esportes, existe um risco de entrar em depressão. Isso pode acontecer com pilotos habituados a vencer, se ele não consegue vencer mais. Além disso, depois de uma carreira neste empolgante esporte, o risco pode se apresentar ao fim da carreira se eles não conseguirem encontrar interesses diferentes ou continuarem nesse ambiente com um papel diferente”, alerta.
Apesar de sua ampla estrutura, a Clinica Mobile, que conta com quase uma dezena de médicos, não possui um psicólogo de plantão.
“Eu concordo que a infraestrutura médica da MotoGP é de muito alto nível, mas ter um especialista para todos os tipos de especialidades ― inclusive um psicólogo ― é uma utopia”, avalia.
Zasa, entretanto, trabalha em um programa de treinamento neurocognitivo que pode abrir as portas do Mundial para este profissional.
“O lado mental da performance esportiva é um questão muito importante. Concentração, habilidade de executar múltiplas tarefas, memória de trabalho, exercícios de imaginação, são apenas algumas das muitas propriedades cognitivas que podem ser treinadas, proporcionando melhores performances em qualquer campo esportivo”, aponta. “Eu, pessoalmente, estou envolvido nessa questão, já que estou desenvolvendo, junto com um psicólogo, um programa de treinamento neurocognitivo dedicado a atletas em todos os tipos de esportes”, conta.
“Entretanto, é difícil dizer se o lado mental é uma prioridade em todos os esportes. Pense num esporte como corridas de moto: eu diria que prevenção de lesões e serviços médicos de emergência de pista são uma questão mais importante em um esporte onde você corre em uma velocidade incrivelmente alta”, avalia.
Em um paddock onde a idade dos pilotos varia entre 16 e 40 anos de idade, Zasa acredita que o ambiente familiar da Clinica Mobile se apresenta como de grande ajuda, ainda que entenda que os mais novos já estão preparados para aquele mundo por conta da passagem por categorias de base.
“Estar aqui como adolescente significa que ele já passou por algum tipo de seleção natural. Para estar aqui, você não só precisa ser rápido, mas também focado, determinado e, definitivamente, equilibrado se quiser ser bem sucedido”, opina Michele. “No entanto, na Clinica Mobile nós fornecemos a todos os pilotos um ambiente familiar para relaxar e ficar distante da pressão durante os muitos fins de semana longe de casa. Normalmente, eles vêm até nós quando não têm nenhuma necessidade médica especial, apenas para ficarem conosco, bater um papo, assistirmos TV juntos. Graças a isso, nós somos muito próximos dos pilotos e podemos dar a eles uma palavra de apoio quando precisam, especialmente para os mais jovens”, sublinha.
Embora o risco de morte exista no esporte a motor, as fatalidades são hoje muito menos recorrentes do que eram no passado. Mas, quando acontecem, Zasa entende que a Clinica Mobile não é o melhor lugar para que os pilotos busquem suporte emocional profissional.
Em momentos trágicos, no entanto, os pilotos não são os únicos a sofrerem. Todo o paddock acaba afetado. Foi o que aconteceu, por exemplo, na morte de Luis Salom, em Barcelona, em 2016.
“No caso dessas tragédias, não devemos nos importar apenas com os pilotos, mas também com os funcionários do paddock. Luis, por exemplo, estava sempre na Clinica Mobile, e a morte dele foi um choque para mim e para o meu time”, admite. “Os funcionários do paddock também são afetados por essas tragédias e também podem precisar de algum apoio profissional”, reconhece.
Pelo regulamento do Mundial, os pilotos precisam se submeter a um teste físico quando voltam de lesões como fraturas, por exemplo. Questionado pelo GRANDE PREMIUM se deveria existir um processo similar para pilotos voltarem à pista após eventos traumáticos ― como a morte de um companheiro de equipe ou o envolvimento em um acidente fatal ―, Zasa respondeu: “Graças ao ótimo trabalho que foi feito em termos de prevenção, acidentes fatais não são tão comuns hoje em dia. Em casos como os que você mencionou, acho que não é realista padronizar um teste para o piloto ser liberado para pilotar outra vez”.
“Não acho que possamos forçar um piloto a passar por aconselhamento obrigatório, embora alguns possam precisar desse apoio”, declara. “De qualquer forma, na minha opinião, parte do tratamento para superar tais tragédias é voltar à pista o mais cedo possível”, indica.
Indagado pelo GP* se depressão é um assunto dentro do Mundial de Motovelocidade, Zasa admite: “Não acho que exista uma atenção real à depressão no paddock”.
“Todavia, no que diz respeito ao esporte profissional ― não importa o tipo de esporte ―, a depressão é algo a ser tratado”, reconhece. “Alguns atletas acostumados a vencer e incapazes de lidar com a derrota podem entrar em depressão quando começam a ter dificuldades. Uma das coisas que ouvi de atletas é que uma vitória não parece tão boa quanto uma derrota parece ruim, e uma sensação boa não dura tanto quanto uma ruim”, conta.
“Além disso, depois de uma vida cheia de empolgação, ter de terminar a carreira e não conseguir reproduzir emoções fortes pode ser difícil para um atleta”, fala Michele.
Por fim, o diretor-médico não quis falar especificamente do caso de Johann Zarco ― uma vez que não se envolveu na questão do piloto da KTM ―, mas reforçou que as portas da Clinica Mobile estão sempre abertas para oferecer amparo aos membros do Mundial.
“Acho que é importante que um piloto tenha um rosto familiar por perto, família e/ou amigos. Acho que conversar com eles e, possivelmente, com o pessoal da Clinica Mobile, já que somos vistos como uma segunda família, pode ser um passo para conseguir algum apoio em momentos de necessidade”, aponta. “Se o piloto precisar de ajuda profissional, considerando as restrições de tempo dos pilotos durante os fins de semana de corrida, acho que a melhor opção seria procurar ajuda fora do fim de semana de corrida, em casa”, completa
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